Quando éramos jovens e sonhadores - e faz mais tempo do que consigo contabilizar - livros eram nossa fonte de inspiração e esperanças. Naqueles dias, bebíamos encantamentos da poesia de Carlos Drummond, Mário Quintana, Manuel Bandeira e Mário de Andrade. O tempo se escoava como areia e não percebíamos que o mundo se transformava ao redor, descartando literatura e poesia.
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Que fim levaram os desafiadores escritos de Sartre e Simone de Beauvoir? E as peças inovadoras de Samuel Beckett e Bertold Brecht? E dos russos Tolstoi e Maiakovski nem lembramos mais. Ficou a saudade dos versos do mineiro Carlos Drummond de Andrade e do alegretense Mário Quintana.
Que ganhavam força e vida, declamados em altas vozes pelo Antonio A., bebericando uma Cuba Libre. Caminhávamos pelas nuvens, discordando de tudo e de todos, mas ao fim, saíamos todos abraçados e irmãos.
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Era aquela boa e confortadora camaradagem, do tipo que não mais se encontra em qualquer esquina. Sem plena consciência, nem preparativos para os tempos que chegaram, das palavras rasas e descartáveis. Por ventura, aluns dos melhores de nós não sobreviveram para lamentar as mudanças. Era um tempo de inocência, vivíamos em uma Porto Alegre acolhedora e valorosa. Nossos lugares queridos eram o Theatro São Pedro e as livrarias da Rua da Praia. No outro dia, perambulei por lá - contei muitas casas de fast-food, cinco farmácias, mas não achei uma livraria que fosse.
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O consolo que resta é que, em algum lugar nas altas nuvens, de uma madrugada que não existe mais, os amigos queridos Paulo J. e Fernando P. sobem pela Avenida Independência declamando versos soltos de Fernando Pessoa e Federico Garcia Lorca.
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