Foram dez meses de transformação nos processos e principalmente de entendimento entre todos na equipe da Vinícola Courmayer, de Garibaldi, até que no começo deste ano, a empresa chegou à fase final para a obtenção da certificação FSSC 22000, a mais importante no mundo da indústria alimentícia. Um processo pelo qual a Cooperativa Vinícola Aurora, de Bento Gonçalves, desbravou dez anos atrás e garantiu a abertura de mercados hoje considerados fundamentais para o vinho gaúcho. Os exemplos das vinícolas, de todos os portes, que buscam a qualificação e o reconhecimento internacional das suas produções em um cenário cada vez mais exigente nos setores de bebidas e alimentos será um dos pontos altos da 15ª Envase Brasil, que acontece entre os dias 23 e 25 de abril, no Centro de Eventos do CIC Bento Gonçalves.
As duas vinícolas serão cases apresentados durante a 5ª Conferência de Segurança de Alimentos e Bebidas, um dos eventos que compõem a programação da Envase, a partir de 23 de abril. “Este processo de certificação foi gradativo nas nossas unidades, iniciado ainda em 2009 e encarado desde então, não apenas como uma norma, mas com engajamento de todas as pessoas envolvidas em todos os níveis de hierarquia de uma empresa. A abertura de mercados, claro, é uma consequência desse processo. O importante é que ajudou a nos mantermos sempre vigilantes à rastreabilidade do nosso produto e à garantia de que estamos livres de qualquer contaminação ou problemas na prática de fabricação. No final, é uma garantia ao consumidor”, explica a supervisora de Qualidade e Meio Ambiente da Vinícola Aurora, Cassandra Marcon.
Ela será uma das palestrantes neste seminário, e terá ao seu lado a gerente de qualidade da Courmayer, Talita Verzeletti, que comandou mais recentemente o mesmo processo na vinícola de Garibaldi. “Nosso maior desafio neste processo foi mobilizarmos toda a equipe para que todos compreendessem a importância da certificação como um avanço individual e coletivo. Foram justamente a comunicação e o alinhamento da equipe que garantiram a evolução. É essa experiência que queremos compartilhar com outras indústrias do setor”.
O seminário terá a curadoria da consultora e auditora de gestão de sistemas de qualidade e segurança de alimentos, Sílvia Berenguer. Ela comandará a mesa, com a abertura do encontro e um bate papo com os palestrantes. Nesta edição, com alguns desafios extras ao setor. Segundo Sílvia, foi-se o tempo em que bastava se preocupar com a opinião dos consumidores, clientes e com a imagem de uma empresa na mídia. “É muito raro que os próprios donos das empresas relatem e detalhem as suas experiências de gestão para transformarem os processos. É um estímulo, que serve sempre como inspiração a outros empresários do setor. Isso é o que sempre trazemos para os expositores e visitantes da feira durante a conferência “, explica ela.
Segundo Sílvia, a transformação experimentada entre as vinícolas tende a se multiplicar em todos os níveis da cadeia produtiva de alimentos e bebidas. “No mundo pós-pandemia, o setor de segurança de alimentos está sendo desafiado pelas mudanças climáticas. Há estimativas de que até 30% das cadeias de produção alimentares serão, de alguma forma afetadas. Onde não existia perigo, vai ter. Então, garantir uma gestão eficiente e comprometida para responder aos desafios já não tem a ver com cumprir um cronograma que está no papel. Agora, a gestão depende diretamente de quem tem competência para encarar a crise”, aponta a especialista.
Entre os convidados deste debate haverá ainda Juliane Arimura, representante na América Latina da Food Service System Certification (FSSC), que norteia a certificação conquistada pela Courmayer e a Aurora e, como reforça Sílvia Berenguer, é o sistema que hoje mapeia, por exemplo, as compras de alimentos pelas principais multinacionais varejistas em todo o mundo.
E o Brasil tem ferramentas que podem auxiliar as empresas do setor a atingirem a qualificação na gestão. É da ABNT a única norma que uniformiza práticas ESG no mundo, com vistas a certificações. É este processo que o diretor de certificação da ABNT, Antônio Carlos de Oliveira, vai detalhar na sua palestra durante a conferência. “Envolve um tripé de ações concretas nas áreas ambiental, social e de governança. Não existia um padrão e nem mesmo um entendimento mais uniforme sobre práticas ESG, então a ABNT criou uma comissão com especialistas de diversos setores, que resultou na PR-2030. Alinha os principais conceitos com um modelo de avaliação, possível de geração de programas de certificação. É o que pode nortear, por exemplo, instituições financeiras e as próprias empresas no momento de investir em projetos ou outras empresas menores, sem correr riscos de descumprir seus compromissos com a comunidade”, explica.
A Envase Brasil tem suas raízes na cadeia vitivinícola, avançou para o setor de bebidas e, posteriormente, a todo setor alimentício de produtos envasados. É hoje a maior feira do Brasil no setor de bebidas e, por ser realizada no Rio Grande do Sul, tem alta relevância entre os países vizinhos do Mercosul.
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